PAPA ou PAMONHA
Já faz alguns anos, mas um fato me marcou e se torno inesquecível. Irene estava grávida de nosso primeiro filho (a).
Estaria para nascer a nossa primogênita, a Alessandra. Estávamos na Convenção
Batista Fluminense na cidade de Campos dos Goitacazes quando após a reunião da
noite quando já estávamos no hotel para o descanso, a esposa sente o
tradicional desejo de grávida. “Não vou conseguir dormir se não comer uma papa",
Isso era por volta das 23:00h . Dei um sorriso. Por dentro estava espantado,
mas muito entusiasmado. Minha mulher estava com desejo de gravidez. A questão
não era o desejo em si, mas o objeto de desejo: comer uma papa. A papa é um
preparado de milho. O milho apresenta grande capacidade de adaptação a diversos
climas, sendo plantado em praticamente todas as regiões do mundo, nos
hemisférios norte e sul, ao nível do mar e em regiões montanhosas, em climas
úmidos e regiões secas. O milho é rico em carboidratos, sendo assim um alimento
energético. Também é fonte de óleo e fibras e fornece pequenas quantidades de
vitaminas B1, B2 e E. No Brasil, o mesmo milho plantado para colheita de grão
seco é colhido ainda verde para consumo. Além do milho verde comum, existem
variedades denominadas milho-doce, que têm sabor mais adocicado, devido ao
maior teor de açúcares. A papa é feito do milho ralado, batido e que espremido
se utiliza o caldo do milho enquanto que a pamonha é feita de milho ralado e
com as misturas devidas. Esta massa é colocada em tubos feitos com a própria
casca do milho atadas nas extremidades. As pamonhas são submetidas a cozimento
até que sua massa alcance uma consistência firme e macia.
Na minha cabeça se passaram vários pensamentos em relâmpago. Pensei em
fubá, açúcar e leite e como preparar um mingau e alternativas. Decidi, com toda
força e entusiasmo descer do andar em que estávamos hospedados e ver a
possibilidade de comprar o que seria para mim um feito único, extraordinário!
Desci. Quando coloco os pés na calçada sinto cheiro de milho! Pensei. Será que
estou com desejo psicológico de gravidez? Dei alguns passos e o que vejo na
esquina? Uma “carrocinha” e um homem vendendo milho cozido. Meu coração bateu
forte. Senti-me um vitorioso. Aproximei-me e para minha surpresa não apenas milho
cozido o homem vendia, mas também pamonha. Para quem não conhece, a pamonha
seria um “parente” da papa. Um pouco mais consistente que a papa, mas o cheiro
e o sabor muito próximos. Perguntei: Papa ou Pamonha? Ele respondeu pamonha. Mas
queremos papa, disse eu, ele disse só tenho pamonha. Leva a pamonha no lugar da
papa. É parecido. Não hesitei. Dá-me cinco pamonhas! Sei lá! Vai, que o desejo
se repete. Sei lá! E se precisar comer cinco pamonhas até chegar o sabor
integral da papa? Já havia ouvido a frase “é melhor prevenir do que remediar”.
Retornei para o hotel e muito empolgado disse: “Pamonha!” Pamonha, disse Irene.
Em segundos levei um susto. Não sabia se ela repetia a palavra da guloseima que
eu informava que tinha em minhas mãos ou se me chamava de “pamonha” pelo fato
de não a apresentar a papa. Foram apenas segundos porque o seu entusiasmo de
receber a pamonha foi tão grande e saboreou com tanta alegria que ao terminar a
primeira das cinco que eu havia levado ela já estava quase que dormindo. E eu
todo feliz em ter podido saciar aquele desejo de gravidez quando a pamonha
substituiu a papa. Pensei, pensei. Eis as lições.
1. Na vida nem tudo que parecer é. Nem tudo reluz é ouro. Nem
tudo que se apresenta como se fosse é. Tem pamonha por aí passando por papa. O
que não é pode passar como se fosse. A pamonha fez o papel da papa. A pamonha
parecia papa. A pamonha tinha cheiro de papa. Na vida precisamos ter cuidado e
observarmos porque nem tudo que parece é. Tem pamonha por isso se passando por
papa.
2. Na vida é possível que alguma seja substituída por outra quando
não se encontra a que se deseja ou precisa. Necessidades e desejos todos
nós temos. Em todos os aspectos da vida e é claro que também na vida espiritual.
Mas é possível que na busca por algo que possa satisfazer a necessidade se
encontre um parecido e, assim, sentir-se satisfeito. Tem pamonha por aí se
passando por papa.
3. Na vida há possibilidade de se receber uma designação sem merecer
ou sem ser de fato. No meu caso da história. A pamonha passou a ser papa.
Nas suas glândulas salivares passava como se papa fosse, mas era pamonha.
Lembro que a esposa sabendo que era pamonha chegou a balbuciar, que papa! Na vida é preciso ter cuidado para que não
venhamos usurpar um nome que não temos. Uma designação que não merecemos e não
nos pertence. Presume-se que a criança pequena
associa o som "pa" à presença do pai, em contraste com o
"ma" (macio...) de sua mãe. Se a mãe está associada ao alimento que
vem no mamilo (o leite), também o pai é visto como quem traz alimento
("papá" é comida, e em Portugal é o modo como se fala
"papai"). Um alimento talvez mais sólido. Os etimólogos lembram que a raiz "pá" do sânscrito (uma língua da Índia), vinculada
às ações de "alimentar", "dar comida" e
"proteger", encontra-se na origem dessa história. Tem pamonha por
isso recebendo o nome de papa, mas que na verdade não é. Tem pamonha por aí se
passando por papa.
Hudson Galdino da Silva
Pastor da SIB de Cabo Frio
pastorhudson@uol.com.br
muito bom parabens pelo texo.
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